Artigos por Clarissa Medeiros

Valorização dos atributos femininos e relações humanizadas.

Outro dia  estava em uma roda de amigos e começamos a jogar conversa fora sobre as características de homens e mulheres em relação à educação dos filhos. Era algo banal sobre como os homens incentivam mais as crianças a serem competitivas nos esportes...

Outro dia  estava em uma roda de amigos e começamos a jogar conversa fora sobre as características de homens e mulheres em relação à educação dos filhos. Era algo banal sobre como os homens incentivam mais as crianças a serem competitivas nos esportes e as mulheres, segundo meus amigos, têm a tendência de desestimular desafios esportivos. 

Não demorou para começarmos a comparar as diferenças de estilos na liderança de equipes no trabalho. Claro que tudo aquilo era uma generalização em um momento de conversa espontânea, mas voltei para casa pensando no assunto.

Conhecer as diferenças comportamentais entre homens e mulheres é essencial para conseguirmos apoiar profissionais a chegar no próximo nível de liderança. Segundo Jung, todo ser humano tem um aspecto feminino e masculino. Em “She – a Chave do Entendimento da Psicologia Feminina”, Robert Johnson explica que Jung chamou o lado masculino da mulher de Animus; e o lado feminino nos homens de Anima. Aqui não estamos falando de identidade de gênero, que é uma escolha individual, mas de qualidade de energia e conjunto de potencialidades.

Tanto homens quanto mulheres podem apresentar características masculinas e femininas. Podemos citar alguns atributos positivos considerados masculinos: a clareza, assertividade, foco, ordem, disciplina, estrutura, discernimento, força, convergência, entre outros. No rol de atributos femininos considerados positivos podemos listar a empatia, gentileza, inclusão, abertura, criatividade, variedade, saber, confiança, vulnerabilidade, harmonia entre outros. 

Na minha opinião a transformação em direção a relações mais humanizadas nas empresas  só vai acontecer se nos apoiarmos nesse princípio da complementaridade, que envolve uma maior valorização das características femininas que têm sido historicamente renegadas.

Foi o estudo pioneiro de Sally Helgesen, coach americana e uma das mais importantes vozes sobre liderança feminina, que passou a delinear as vantagens das aptidões femininas para a liderança. Em 1990 ela publicou o clássico “The Female Advantage – Women’s Way of Leadership” e, mais recentemente, o livro “Como mulheres chegam ao topo”, de 2019. Me inspiro demais nas ideias de Sally e tive  a grande satisfação de  ser sua embaixadora no Brasil e multiplicar esta metodologia para centenas de mulheres executivas. O estudo de Sally apontou quais eram as competências masculinas e femininas mais comuns e o por que as organizações podem, e devem, se reinventar. Veja o que o estudo de Sally apontou como sendo aspectos marcantes no estilo de liderança e gerenciamento:

Práticas masculinas:

•      Competição e comando (possível autoritarismo).

•      Posicionamento pessoal para vencer, atingir a meta.

•      Decisões mais racionais com foco em assuntos que pedem atenção imediata.

•      Foco em atender as expectativas do líder imediato (“chefe”).

•      Gerenciamento rápido, reativo, dinâmico e intenso, sem pausas (ou poucas) durante o dia.

•      Rotina cheia de interrupções, descontinuidades e fragmentações.

•      Mestria de várias competências.

•      Falta de tempo para reflexão.

•      Separação entre família e trabalho.

•      Possível distanciamento da família

•      Identificação (identidade) com o trabalho.

•      Restritivos / cautelosos no compartilhamento de informações.

•      Valorizam a autonomia.

Práticas femininas

•      Balanceamento de demandas conflitantes visando à cooperação.

•      Decisões intuitivas e feeling do aspecto humano nas decisões.

•      Planejamento, gestão do processo, encontrar “a melhor forma”.

•      Contribuição para os outros.

•      Mensuração mais subjetiva do sucesso  (standards próprios).

•      Rotina cadenciadas e com diversas pequenas pausas.

•      Trabalho como parte da vida  (não separado).

•      Forte necessidade de ter tempo (paz de espírito).

•      Tendência a ser acessível e disponível para as pessoas.

•      Impulso para compartilhar informações.

•      Foco em relacionamentos e na “ecologia da liderança”.

•      Visão sistêmica e ampla da sociedade.

•      Identidade multifacetada.

•      Valorizam intimidade.

Pois nosso desafio atual é equilibrar em cada um de nós as polaridades masculina e feminina e construir uma visão compartilhada na empresa que inclua e respeite as posições dos demais, sem querer brigar por quem está certo ou errado. Nem mesmo em uma conversa despretensiosa na mesa de bar. 

E você? Consegue identificar os atributos masculino e feminino em seu comportamento? Tem alguma dificuldade de aliar os dois pólos? 

Créditos da imagem: wocintechchat by Unsplash
Busque por tema: