A cultura ocidental em que vivemos valoriza gente comum como se fossem gurus sobre humanos. Busca-se fórmulas prontas para resolver problemas complexos em passos simples. Atualmente, as questões humanas são principalmente as questões existenciais. Destas se desdobram a maioria dos problemas humanos. Dizem respeito a como alcançar níveis de sobrevivência, de bem-estar e de felicidade satisfatórios e isso transcende as questões materiais.
Abraham Maslow propôs uma influente Teoria das Necessidades. Explica que, conforme a pessoa avança na satisfação de suas necessidades básicas, como alimento e segurança, ela avança para necessidades mais elevadas, como necessidades afetivas, de pertencimento a grupos sociais e de alcance de significado e a autorrealização.
O ser humano é o único ou ser sobre a face da Terra que tem consciência da própria existência e dos próprios pensamentos, que reflete sobre a própria experiência e que precisa de significado para ser feliz. Assim, há um certo ponto da vida a pessoa pode despertar para essa busca por autorrealização e significado. Esse despertar pode vir na forma de uma intensa inquietação interna, uma sensação de que as coisas não fazem sentido como antes e sente um impulso por buscar a realização de seus potenciais, para transcender limitações e alcançar um novo patamar de expansão e de liberdade de ser.
Nesse ponto, é comum a pessoa se sentir desencaixada no trabalho, na família e até mesmo na sociedade. Sente-se limitada, impotente ou simplesmente pode sentir um forte impulso por se expressar plenamente, por compartilhar seus dons de talentos e gerar um impacto positivo. É um ponto de inflexão. A pessoa se dá conta que existem barreiras nesse caminho e sente a necessidade de reunir as condições para superar tais obstáculos.
Logo, vê que se trata de um percurso de autossuperação pois a maioria das amarras dizem respeito às antigas formas limitantes de pensar, como o “peso do passado”, que se apresenta na forma dores emocionais escondidas ou mal processadas, como por exemplo os ressentimentos e os traumas, que costumam gerar formas fixadas de pensamentos, de reações emocionais. É muito importante reduzir a anestesia emocional e voltar a sentir plenamente os próprios sentimentos, passar por processos de cura e ressignificar a própria trajetória.
Os aspectos limitantes da pessoa estão arraigados em sua personalidade como padrões de pensamento e formas fixadas de reagir emocionalmente. Entram em cena também os mecanismos de defesa – padrões de comportamento que emergem para defender a sobrevivência satisfatória, defender a própria pessoa e manter as coisas como estão.
Os traços de personalidade moldam a forma de agir e de se comportar constituindo o caráter, que pode ser modificado quando existe uma dedicação genuína para a autotransformação, um processo que envolve autossuperação e que resulta em crescimento pessoal.
As pessoas que entram nesse processo são aquelas que estão prontas para trocar de pele, para mudar de forma, enfim, quem busca no íntimo do seu ser uma forma mais significativa, autêntica e livre de estar no mundo.
O processo de transformação pessoal também envolve tomar contato com os próprios potenciais e descobrir o propósito de vida ou Dharma, como propõem as antigas tradições orientais. É comum, neste processo, a busca por clareza sobre as verdadeiras forças e sobre os dons, talentos e as virtudes, que são os traços positivos de caráter.
Nesse processo há um progressivo ganho de clareza, de senso de direção na vida e de poder pessoal para fazer as mudanças necessárias. Ocorre o despertar a inteligência criativa, que constitui os estados intuitivos e de consciência expandida, como estado de fluxo ou flow.
Como resultado, revela-se o melhor do indivíduo, o aspecto criativo e virtuoso e, com o tempo, vem o desejo de transbordar esse entendimento e expansão para os relacionamentos pessoais e profissionais. A pessoa passa a ter consciência do próprio ser e dos próprios valores – aquilo que ela busca e aceita, e o que é inaceitável para ela. Então, vai buscar esse alinhamento entre o seu ser e o seu fazer. Ela vai buscar expressar o seu ser em tudo o que faz.
Mais consciente de suas forças e vulnerabilidades e mais apta para navegar nas próprias emoções, passa a impactar cada pessoa a sua volta de uma forma diferenciada. Cresce o autodomínio e a capacidade de empatizar com outras pessoas. Aumenta a capacidade de enxergar o outro como sendo uma extensão de si mesmo. A sensação de separação, de ser um indivíduo isolado dos demais, cede lugar há um senso de integração maior. O ser passa a experimentar, com mais frequência, o estado de flow ou de fluxo, um estado existencial em que as decisões são bastante intuitivas e proporcionam um bem maior, um impacto positivo que extrapola as fronteiras dos interesses pessoais.
Neste estágio, o ser expandido consegue se revelar de forma mais autêntica, já que não há necessidade de se defender tanto, pois aprendeu a gerenciar emoções desafiadoras como o medo e a raiva, e pôde curar antigas feridas emocionais. O ser que alcança auto maestria vive uma vida plena, criativa, com um senso de completude. Se movimenta em fluxo, livre do esforço demasiado, goza de prosperidade e de alegria. Atravessa os períodos de dificuldade e instabilidade com a confiança que cada abalo ou atrito nada mais é do que um passo necessário para refinar sua capacidade de viver com consciência expandida.
Ela passa a ser uma influenciadora do processo de transformação de outras pessoas e a trabalhar pela renovação da sociedade.
Auto maestria é a capacidade de orientar os próprios caminhos na direção da realização do máximo potencial. É ter autodomínio e uma avançada capacidade de gerenciamento emocional. Isso é resultado de um processo dinâmico, cheio de descobertas, que se revela a cada passo do caminho. O alcance da auto maestria possibilita descobrirmos, acima de tudo, que o mundo é um lugar bom para se viver, que o universo é amistoso e que responde criativamente aos nossos anseios por evolução. Entendemos que as outras pessoas também são seres sagrados em processo de lapidação e de refinamento, e que o verdadeiro sentido da vida é aprender sempre, transcender o pequeno eu e realizar o próprio Self. O ser expandido se dá conta de ser multifacetado e multidimensional, de ter capacidade de criar realidades por meio de seus pensamentos, escolhas, palavras e atos. Pode, enfim, moldar o futuro, tanto individual quanto coletivo.
Com o alcance da auto mestria caem as ilusões e emerge uma clareza pura, aliada a uma capacidade de ação construtiva, impulsionada por propósitos altruístas que levam a felicidade e prosperidade individual e coletiva.
Precisamos de menos gurus do marketing e mais líderes dispostos a trilhar o caminho da auto maestria. Esse é o único caminho que permite harmonizar alta performance, saúde mental e felicidade.
Créditos da imagem: Inspa Makers by Unsplash