O mundo corporativo, assim como a sociedade em geral, enfrenta um aumento significativo na complexidade das suas dinâmicas. Essa realidade gera pressões intensas e uma maior propensão ao esgotamento mental das pessoas no ambiente de trabalho, além de dificuldades nos relacionamentos interpessoais.
Em busca de soluções, muitas vezes se atribui toda a responsabilidade às lideranças. Vamos compreender com maior proximidade estas dinâmicas?
Pressão e expectativas sobre os líderes
Olhando de perto para a questão, podemos perceber uma enorme pressão e expectativas sobre as lideranças. No entanto, cabe questionar: quem cuida desses líderes? Como se cuidam? Como se desenvolvem? Estas pessoas estão preparadas para liderar outras pessoas? A solidão das lideranças diante da imensa complexidade das organizações é um ponto sensível que merece atenção.
Sabemos que na alta liderança, como Conselhos nas Diretorias, são definidas as metas e o caminho estratégico para alcançá-las. Assim, espera-se que o foco da organização esteja claro e bem delineado. Contudo, conforme essas lideranças buscam difundir a estratégia para os demais níveis da organização – que geralmente apresenta uma estrutura piramidal (mesmo que possam existir menos níveis hierárquicos atualmente) – então, percebo que se inicia algo semelhante a um processo que, na física, é chamado de “difração”.
É como um feixe de luz entrando em um prisma, em que as ondas de energia divergem em diversage “partes”, gerando muitas cores e raios diferentes. Assim, como ocorre para o movimento das ondas de energia, embora as metas possam estar claras na cúpula da empresa, se tornam muitas vezes difusas no restante da organização. Orquestrar todas as ações torna-se um imenso desafio, já que todos os movimentos envolvem pessoas, com suas mentalidades, condicionamentos e potenciais a serem desenvolvidos.
Expectativa de liderança super-humana
Hoje, espera-se que a liderança seja super-humana. Mas quem cuida desses líderes? Embora muitos possam dizer que essa função cabe aos Recursos Humanos, essa questão possui nuances que merecem ser melhor exploradas. Poderíamos questionar também: quem cuida dos líderes e das lideranças de RH?
Desenvolver habilidades humanas – as chamadas soft skills – como paciência, empatia, compaixão e pensamento sistêmico, não é uma tarefa trivial. Requer anos de dedicação ao autoconhecimento e uma genuína disposição para se conhecer e superar comportamentos condicionados. Não basta apenas ter autocontrole.
Ser líder hoje envolve uma grande competência para lidar com pessoas, mas como seres criativos e vulneráveis, seres emocionais que são fontes de conhecimento e de energia produtiva – o que pede cuidado.
A linha tênue do cuidado
É importante levantar duas questões. De um lado: lideranças muitas vezes solitárias e sendo pressionadas para serem “super-humanas”. Do outro: profissionais de RH sendo delegados como os “cuidadores”.
Quando o assunto é “cuidar”, a tendência na maioria das empresas é delegar essa responsabilidade ao RH, que passou a receber todas as demandas relacionadas a pessoas.
No entanto, a responsabilidade pelo desenvolvimento humano é, em parte, de cada pessoa (a autorresponsabilidade é a chave para ser um adulto saudável), das próprias lideranças de áreas e, claro, também das políticas organizacionais gerenciadas pelo RH.
Cultura de autocuidado e autodesenvolvimento
Nesse contexto, acredito que uma cultura de autocuidado e autodesenvolvimento seja o caminho certo para avançar no desenvolvimento pessoal e organizacional.
Penso que cada um deve se responsabilizar pela sua parte, evitando a idealização das lideranças. A disponibilidade emocional, tema trabalhado em nosso artigo anterior, é crucial para a humanização das relações e o desenvolvimento interpessoal.
Ao refletir sobre a pressão da liderança solitária, é fundamental lembrar que cuidar dos líderes é um passo essencial para construir um ambiente corporativo mais saudável e produtivo para todos.
O que você pensa sobre esse tema? Comente, quero saber a sua opinião!