Já parou para pensar como estamos vivendo um momento crítico e, ao mesmo tempo, muito possibilitador? Se, por um lado, a pandemia intensificou a complexidade dos problemas que já existiam, tanto no âmbito pessoal quanto social, por outro, hoje temos a oportunidade de desconstruir formas de viver e de trabalhar que não fazem mais sentido. Parece haver uma chance de criar um novo paradigma para avançar, se agirmos rápido.
Por exemplo: o stress com o trabalho aumentou ainda mais, a ponto de o burnout (síndrome do esgotamento profissional) se tornar a nova pandemia nas empresas. Ao mesmo tempo, a resistência das próprias empresas a métodos de desenvolvimento humano que gerem efetivo autoconhecimento vem caindo e dando espaço a novas abordagens. Tenho feito cada vez mais palestras e workshops sobre felicidade, equilíbrio emocional, auto estima. Sou convidada semanalmente para programas que fortaleçam as relações construtivas, a inclusão de mulheres, de pessoas negras e de outros grupos historicamente minorizados nas empresas. Isso seria impensável há dez anos, quando eu estava começando a empreender. Naquela fase, estas questões eram tratadas apenas em conversas privadas.
É fato que estamos evoluindo, mas ainda num movimento trôpego, que combina avanço tecnológico com decadência humanitária. Se a ciência nunca foi tão avançada (pelo menos na civilização ocidental tal como a conhecemos), a qualidade de vida, do ponto de vista da sustentabilidade ambiental e da felicidade humana, parece tão atrasada.
Todos sabemos que precisamos de uma mudança consistente na forma de trabalhar, de produzir e de consumir para evitar o caos. O que isso tem a ver com auto estima?
A falta de autoestima nos leva a esperar que um salvador transforme a situação e, assim, jogamos fora o nosso poder pessoal. Isso acontece quando depositamos a expectativa da mudança nos governantes, nas convenções do clima (todas fracassadas, ano após ano), nos CEOs das grandes empresas. Inegavelmente, lideranças que definem as políticas públicas e empresariais têm uma responsabilidade maior do que “cidadãos comuns”. Entretanto, a imensa maioria das lideranças têm questões de autoestima e buscam afirmar o seu valor com métodos errados. A guerra da Ucrânia é apenas uma dentre muitos exemplos que poderíamos citar, diante da imensidão do uso distorcido do poder.
A maioria das pessoas não sabe que têm uma questão de auto-estima. Simplesmente passam a vida buscando “reconhecimento” externo e “soluções” que venham de “fora”. Quando deixamos de curar nossas próprias feridas e terceirizamos as responsabilidades, estamos deixando de viver de nossas escolhas, que é a maior liberdade que podemos alcançar.
Quando vivemos de nossas próprias escolhas e são escolhas saudáveis, é sinal que temos um poder pessoal fortalecido e uma boa construção de caráter – é aquela capacidade de ir “lá fora” e de fazer o que a gente se propõe a fazer, de acordo com nossos valores. Termina a autossabotagem, nasce a auto responsabilidade. Acaba o sentimento de ser uma vítima das situações. Passamos a ter um olhar mais generoso para cultivar relações construtivas, com outras pessoas e com o ambiente que nos cerca. Essa é a essência da humanização das relações, tão necessária atualmente dentro e fora das corporações. Afinal, não somos robôs. Penso que a auto responsabilidade é a condição indispensável para impulsionarmos uma grande transformação, e que a autoestima fortalecida é a base deste processo. Por este motivo, vou me dedicar mais a conversar sobre auto estima e espero contar com suas contribuições nesta conversa.