Artigos por Clarissa Medeiros

Foto Diversidade na lideranca

Como as organizações podem aumentar a diversidade na liderança ?

Este assunto gravita minha mente a muitos anos, enquanto tenho lidado com o desafio de construir um estilo de liderança feminino autêntico como executiva, no passado, e agora como empreendedora.

Este assunto gravita minha mente a muitos anos, enquanto tenho lidado com o desafio de construir um estilo de liderança feminino autêntico como executiva, no passado, e agora como empreendedora. Tenho vivenciado a jornada desafiadora que é promover a diversidade sob diferentes ângulos e pude refletir sobre o que ainda impede as equipes executivas de contar com mais mulheres na liderança das organizações. 

Pode parecer simples, mas a questão principal é que precisamos enfrentar o desconforto de viver e trabalhar com pessoas que são substancialmente diferentes de nós e aprender que o verdadeiro poder está em empoderar os outros. Muito diferente de comandar e controlar.

No início de carreira costumava prestar assessoria de comunicação para líderes em corporações e em associações empresarias. Mais tarde, assumi a diretoria de assuntos corporativos e sustentabilidade de uma indústria global de embalagens e aprendi o que significa ser a única mulher na sala. Lidei com inúmeros vieses, frequentemente inconscientes, e um sistema de crenças que oferecia muita resistência às ideias que eu trazia.

Nos últimos anos orientei e treinei inúmeras mulheres que aspiram ao crescimento na carreira e negócios e tenho atuado mais com a liderança que busca mentoria para refinar a habilidade de gerenciar equipes diversificadas e desenvolver talentos femininos. Durante as palestras e programas de formação, o desafio nuclear tem sido engajar líderes – tanto homens quanto mulheres, em se envolver de uma forma mais profunda e contundente com a mudança de seu próprio padrão mental e de comportamento.

Em média, quando as organizações tentam implementar novas estratégias que exigem mudança de atitude, após algum tempo podem surgir questionamentos. A resistência a algo novo, a falta de comunicação sincera, de compromisso ou o ceticismo podem atrapalhar e isso se aplica à abertura de espaço para as mulheres na liderança também. Poucos são contra mudanças, mas quando se trata de uma transformação real na atitude, a resistência individual pode ser silenciosa e predominante.

Hoje se fala muito sobre promover diversidade. O curioso é que basta andar na rua ou entrar numa estação de metrô para ver que já somos diversos. A humanidade é naturalmente diversa. É nas empresas que persiste o tabu, porque as organizações, em média, são controladas pela elite intelectual que faz escolhas com base em seu próprio sistema de crenças, o que tende a perpetuar o “business as usual”. 

Essa é uma construção sociocultural que pode ser rastreada há muito tempo. O mesmo acontece no campo acadêmico, o que está gradualmente mudando. Por isso as políticas empresariais, com intervenções afirmativas, assim como o investimento em desenvolvimento de um novo mindset e de novas lideranças é tão importante.

A cultura corporativa só muda quando os líderes mudam. Precisamos de mais diálogo, olho-no-olho. Claro que estou inserida neste contexto e busco sempre novas perspectivas e confrontar as velhas crenças que transitam por aqui. É uma desconstrução que leva tempo. Às vezes, gera diferentes graus de desconforto. Mas é um enfrentamento imprescindível se quisermos o aprimoramento pessoal e coletivo.

Daqui algumas gerações essas questões poderão ter se tornado irrelevantes. Tomara! Mas, a liderança tradicional formada por Baby Boomers, Geração X e até mesmo segmentos da Y ainda acha difícil aceitar e integrar plenamente aqueles que são diferentes de si, devido ao padrão de educação recebido desde a infância. Falar sobre igualdade e manter um contato esporádico com pessoas diferentes não é inclusão e não será suficiente para promover mais diversidade nas empresas. Enquanto não conseguirmos sentir que somos iguais não haverá um avanço tangível.

Aprendi com Amit Goswami, renomado físico quântico e orientador de meu projeto de Mestrado, e com Ken O’Donnell, palestrante e escritor sobre valores em liderança e autogestão, que precisamos de uma abordagem mais profunda para uma mudança eficaz. Ken aponta que a energia para a construção de relacionamentos profissionais positivos é perdida no medo, na dúvida e na confusão. Por conseguinte, a chancela acadêmica e a experiência deixaram de ser suficientes, sendo a sabedoria uma característica fundamental do líder hoje.

Um líder sábio desperta o melhor nas pessoas, independentemente de gênero, raça, orientação sexual, condição física ou idade. Isso envolve cultivar a proximidade com as pessoas e cultivar a própria humildade. Não é necessário renunciar ao seu poder pessoal ou posição. É saber que seu papel é servir, estando aberto às necessidades de outras pessoas, com foco no que é bom e virtuoso nelas. 

Claro que isso envolve investir tempo e energia na auto-observação, em trabalhar as suas próprias questões internas e promover diálogo para criar oportunidades para real conexão. Isso expande a compreensão sobre nossos problemas e formas de evolução.

Em 2019, conduzi um programa de mentoria para um grupo de mulheres de diferentes gerações e origens culturais. Passamos um ano juntas e, embora tenha sido desafiador lidar com tantos modelos mentais no início, acabou sendo uma incrível experiência. Pude apoiar o crescimento delas e adquiri um carinho especial por cada uma, e foi um marco no meu próprio desenvolvimento.

Quanto a promover mais mulheres ao nível executivo, precisa ser uma iniciativa de mão dupla entre gestoras e membros da diretoria e conselho. Envolve muito diálogo com o primeiro nível, bem como programas específicos para a liderança e ações específicas para fortalecer o protagonismo dos talentos femininos.

Quando iniciei um recente programa de formação de mentores, o grupo feminino temia que ninguém quisesse participar e os homens estavam desconfortáveis em oferecer orientação para um grupo exclusivo de mulheres. “Por que temos que fazer isso” era a questão inicial. Hoje todos estão engajados no desenvolvimento da carreira delas e têm aprendido que promover mais diálogo com aqueles que são diferentes é a coisa principal a fazer, assim a organização pode efetivamente reter talentos valiosos, ampliar a criatividade, o desempenho da equipe, a rentabilidade do negócio e a felicidade. Isso é legado.

Precisamos lidar com esse profundo senso de separação que ainda temos em relação aos outros. É forte e é uma ilusão. Isso fez com que o movimento pela sustentabilidade empresarial afundasse em retórica e incoerência. Agora corremos o mesmo risco, se os líderes insistirem em tratar o equilíbrio de gênero e diversidade como questão de compliance. Não se trata apenas de KPIs. 

O que nos une é o que nos tornará mais humanizados. Superar a ganância, a manutenção de ambientes tóxicos e de empregos pobres em significado. Aprender a acolher sentimentos; perceber o padrão mental; tomar consciência do comportamento e o impacto sobre os outros.

A Ciência Quântica pode ajudar a entender melhor nossa verdadeira natureza e como superar os maiores problemas. A nova física esclarece que a realidade é multifacetada e inclui muitos níveis de percepção. Alguns são concretos e exatos, como o corpo e as coisas materiais. Outros níveis são mais sutis, como pensamentos, sentimentos e inteligência intuitiva. Este geralmente são reprimidos, um completo desperdício de potencial.

Depois de vinte anos praticando meditação e autodescoberta não vejo nenhuma possibilidade de mudança real que não envolva redescobrir quem realmente somos, entender nossas limitações e potenciais. 

A solução para nossos principais problemas depende de um salto na consciência. Isso é um processo criativo e é quântico porque envolve mudança de pensamento e de sentimento, e eles operam em um nível energético também, não são apenas química cerebral.

Esse nível de mudança é o que determina como nosso processo evolutivo seguirá. Conseguiremos dar o salto quântico para novas formas de consciência e contar com times mais diversos e inovadores nas empresas, capazes de serem agentes de efetiva transformação? 

Isso é sobre auto liderança. As mulheres, por sua natureza empática, podem desempenhar um papel importante ao assumir mais protagonismo para liderar mudanças. Serem modelos que apoiam outras mulheres e que ajudam seus colegas a mudar. Podemos fazer isso se decidirmos perdoar e abandonar qualquer vestígio de vitimização, se nos esforçarmos para ser a mudança que queremos ver no mundo.

Créditos da imagem:  Alexander Grey by Unsplash
Picture of Clarissa Medeiros

Clarissa Medeiros

É mentora de lideranças, palestrante e empresária premiada pela Humanizadas e HSM como "Melhores Empresas para o Brasil". Sócia-fundadora da Clarity Global, impulsiona a liderança feminina e as relações humanizadas em grandes empresas. Mestre em Ciência Quântica da Saúde e Felicidade e certificada internacionalmente em Coaching para Mulheres, Corporativo, Profissional e de Vida, com trajetória em Comunicação Corporativa, ESG, Relações Institucionais e Desenvolvimento Humano e Organizacional.

Busque por tema: